13 julho 2014

Vila de Sintra menos habitada


A degradação do parque habitacional, a desertificação humana e a massificação turística são alguns riscos que colocam em perigo a vila de Sintra. A vila de Sintra está a sofrer uma desertificação humana devido à massificação turística. Quem o afirma é Rodrigo Sobral Cunha, docente no IADE - Instituto de Arte, Design e Empresa, e responsável pela organização do Colóquio Nacional sobre Raul Lino em Sintra, uma iniciativa que pretende destacar a intervenção do arquitecto Raul Lino (1879-1974) em Sintra e em Portugal, com perto de 700 projectos realizados. Assinalam-se os 40 anos do seu falecimento e os 100 anos da inauguração da Casa do Cipreste, uma das suas obras emblemáticas. 

Os riscos da desertificação e da degradação do património habitacional preocupam atualmente, mas o próprio Raul Lino já tinha alertado para o problema, numa conferência realizada na Sociedade de Geografia de Lisboa, a 16 de Janeiro de 1957, onde referiu que o turismo iria modificar as paisagens.

Rodrigo Sobral Cunha afirma que essa previsão tem vindo a concretizar-se e que a vila de Sintra tem perdido habitantes em virtude de se tornar apenas um lugar turístico. «Existe uma crescente degradação do parque residencial, apenas são recuperados alguns edifícios e praticamente todos dirigidos para o turismo. A vivência humana da vila está a perder-se, em contraste com uma saturação de turistas», revela o responsável.

Revitalizar a habitação 

É precisamente esse o tema em debate no colóquio, além de se mostrar e analisar a obra do arquiteto português na região. «Pretende-se, nesta iniciativa, revitalizar a habitação na vila. Chamar à atenção a autarquia da Parques de Sintra para o problema da reabilitação do património, para proporcionar o retorno da população ao centro da vila, pessoas de todas as classes sociais fazem parte e dão vida a Sintra», explica o docente. 

O evento é composto por quatro ciclos de conferências, dois dos quais já realizados. O segundo ciclo foi inaugurado pelo historiador de Arte José-Augusto França e pelo presidente da Ordem dos Arquitectos João Santa-Rita. Contou com a participação de um significativo e diversificado conjunto de 30 oradores, entre os quais historiadores, arquitectos, filósofos, artistas, museólogos e literatos, todos admiradores da obra de Raul Lino. Propuseram fazer reviver em 2014, a partir de Sintra, o percurso da vida, do pensamento e da obra do arquiteto da 'casa portuguesa'. 

Também Fernando António Baptista Pereira, presidente do Conselho Científico da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa; Maria Helena Souto, professora do IADE; e arquitectos destacados, como Gonçalo Byrne, estiveram presentes no segundo encontro. No Outono irá realizar-se o terceiro encontro e Rodrigo Sobral Cunha espera que a discussão sobre a reabilitação da vila continue. A apoiá-lo neste tema e na iniciativa do colóquio tem os habitantes das quintas de Sintra e de uma parte considerável da população da vila, bem como da própria Câmara Municipal. «E urgente reabilitar as ruínas que estão em quase todas as ruas da vila e revitalizar. Para isso é importante voltar a trazer população jovem para Sintra», conclui o docente.

Fonte: Expresso

0 comentários:

Enviar um comentário

Obrigado pelo seu comentário.