16 fevereiro 2014

Casas: Há vida para lá dos chineses. São franceses e reformados


O investimento chinês e os vistos gold estão na moda, mas há outros estrangeiros cada vez mais interessados em Portugal: os reformados franceses. Começaram por vir passar férias, desviados pela instabilidade política e social nos países do Magrebe. E agora procuram casa mesmo para viver - e não é só por causa do bom tempo e da comida, que isso também há no sul de França. 

“Eles pagam muitos impostos lá e em Portugal há benefícios fiscais. Em 2012, o governo criou um mecanismo de apoio que permite que as reformas e pensões de estrangeiros não paguem IRS se eles comprarem casa e passarem cá seis meses por ano durante dez anos”, adiantou o diretor-geral da ERA Imobiliária, Miguel Poisson. E acrescenta: “A poupança que um reformado francês recebe quase paga uma casa em Portugal.”

Aliás, a medida foi tão bem recebida que Portugal entrou para a lista dos paraísos fiscais dos 15 milhões de reformados franceses, juntamente com Marrocos, Senegal, ilhas Maurícias ou Tunísia. Não só Portugal é mais perto e as viagens são mais baratas como os preços das casas desceram em 2012 e 2013 e estão duas ou três vezes mais baixos do que os praticados no sul de França, como em Nice, Saint Tropez ou Marselha.

De acordo com o diretor executivo da Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa em Paris, Ricardo Simões, a procura incide em moradias ou villas no Algarve ou nos arredores de Lisboa e só depois em apartamentos na capital. Há ainda alguma curiosidade pelo Alentejo e Douro. Além disso, a maior parte não precisa de recorrer a crédito, logo, é um investimento de encaixe rápido.

Em busca de investimento
Não é, por tudo isto, de estranhar que as imobiliárias estejam a tentar captar estes investimentos cujo potencial ascende já a 15 milhões de seniores. O Troia Resort, por exemplo, fez vários acordos com operadores turísticos franceses e no ano passado a ocupação nos hotéis disparou 288%, de 410 para 1590 clientes, alguns dos quais se perfilam agora como potenciais compradores das casas do resort.

Em maio, a Câmara de Comércio e Indústria Franco-Portuguesa, a associação dos mediadores (APEMIP), o AICEP e a Associação Industrial Portuguesa (AIP) organizam o terceiro Salão Imobiliário de Portugal em Paris, evento que, após a edição do ano passado, terá contribuído para a concretização de negócios de 25 milhões de euros e que já tem pré-registadas 48 empresas.

“Abrimos junto deste segmento uma porta para Portugal. Os franceses não viam Portugal enquanto país para continuar os seus projetos de vida e agora já o confundem menos com Espanha ou com o país dos imigrantes”, disse Ricardo Simões.

Contudo, repara, “não conseguimos saber ao detalhe qual o valor de investimento realizado por franceses porque não se fazem estatísticas oficiais disso em Portugal. Apenas sabemos que em 2013 o número de franceses que entrou no país aumentou 8%, “e não eram emigrantes ou lusodescendentes”.

A Miami de Álvaro
Quando o ex-ministro da Economia Álvaro Santos Pereira chegou ao governo, disse que “gostaria que Portugal se transformasse numa Florida da Europa”. A declaração gerou polémica, mas os benefícios fiscais referidos terão ido nesse sentido e agora, mesmo sem Álvaro, é para aí que Portugal caminha. Não só com os franceses, mas com os nórdicos ou os brasileiros.

“Dentro de dois anos, após o Mundial e os Jogos Olímpicos, temos muitas condições para atrair brasileiros e os seniores são o foco, porque não falam inglês e podemos desviá-los da Florida para cá”, disse o presidente da APEMIP, Luís Lima.

Fonte: Dinheiro Vivo

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