25 novembro 2017

O papel da gestão científica no desenvolvimento sustentável das cidades


A consciencialização dos municípios face à necessidade de definir uma estratégia de sustentabilidade é hoje uma realidade, sendo, para o efeito, crucial a aplicação de standards reconhecidos internacionalmente. As alterações demográficas, tecnológicas, económicas e ambientais que se têm verificado ao longo dos últimos anos impactam severamente o planeamento e a gestão das cidades. Mais de metade da população mundial vive já em áreas urbanas, pelo que urge tornar as cidades cada vez mais resilientes e smart, de modo a garantir, a longo prazo, um desenvolvimento sustentável eficaz e qualidade de vida aos seus cidadãos.

A capacidade de resposta às principais mudanças por parte das cidades depende, na sua maioria, do acesso a informação que permita atuar numa ótica de planeamento e controlo de gestão, o que é feito a nível local com os vários organismos intervenientes e responsáveis. Cresce, assim, a necessidade de criar processos mais eficientes, recorrendo às melhores práticas de gestão de cidades de referência, através da padronização da medição do desempenho económico, social e ambiental.

Cientes deste desafio, comités técnicos da International Organization for Standardization (ISO) elaboraram diversas normas de orientação para o desenvolvimento sustentável das comunidades, das quais destaco a ISO 37120, publicada em 2014. Este referencial internacional estabelece um conjunto de 100 indicadores que ajudam a mensurar a performance das cidades em diferentes áreas de atuação como Economia, Ambiente, Saúde, Segurança e Planeamento Urbano, entre outras. De acordo com a quantidade de informação recolhida, o que exige um esforço transversal a cada município dada a diversidade de temas compreendidos, poderão ser obtidos diferentes níveis de certificação para as cidades, sendo o World Council on City Data (WCCD) o organismo internacional responsável por este processo. Independentemente do nível alcançado, este reconhecimento é benéfico para os municípios, pois expõe a sua aposta numa estratégia de maior transparência e melhoria contínua através do city-to-city learning. Daí, existirem já 35 cidades certificadas por esta ISO a nível global, sendo a cidade do Porto a única cidade portuguesa certificada até à data.

Com este levantamento exaustivo de dados acerca do município, desenvolve-se um esforço acrescido, mas, ao mesmo tempo, compensador, de criar uma estrutura de reporte centralizada que permita a gestão de informação de forma holística e contínua, facilitando a monitorização dos indicadores. Assim, como resultado do investimento na análise de dados através de standards internacionais, verificam-se vários benefícios para os municípios:

• Centralização de informação dispersa acerca do concelho através da criação de mecanismos de reporte;
• Identificação de lacunas existentes face às melhores práticas internacionais, com a definição de cidades de referência para uma análise de benchmarking (local e internacional);
• Avaliação eficaz do impacto de medidas locais e do retorno sobre investimento;
• Reconhecimento a nível global através de certificação pelo WCCD;
• Aumento do nível de satisfação dos habitantes dada a maior transparência;
• Potencialização de investimento através da partilha pública de dados.

A gestão científica assume, assim, um papel preponderante neste processo, pois, com base em medições precisas e dados empíricos, os municípios são capazes de tomar decisões informadas para traçar planos de ação com o objetivo de melhorar o seu desempenho. Ao invés de atuarem apoiando-se em pressupostos, as cidades ficam, então, capacitadas a validar e documentar a sua performance, permitindo a resolução dos seus desafios aplicando sobretudo métodos científicos de identificação de problemas.

Prevê-se ainda a introdução de novas normas focadas nesta temática para auxiliar os municípios, como a ISO 37101, publicada no final de 2016, que fornece diretrizes para a implementação de um sistema de gestão para o desenvolvimento sustentável, de modo a permitir aos governos locais delinearem a sua estratégia de sustentabilidade e gerirem o respetivo sistema de gestão. No início deste ano, foi também divulgada a ISO/TS 37121, que compila uma série de abordagens utilizadas por diferentes cidades e organismos internacionais no apoio à implementação e na medição da eficácia de iniciativas de resiliência.

Como se pode constatar, o desafio dos municípios não termina por aqui. Existe ainda muito trabalho a ser feito para criar mais cidades inteligentes e sustentáveis, garantindo aos cidadãos melhores condições de vida. Muitos municípios portugueses já estão a olhar para estes referenciais como uma oportunidade única para cumprir com estes objetivos, pois já se aperceberam que o risco de não seguir normativos reconhecidos internacionalmente pode conduzir a uma gestão ineficiente assente em pressupostos e com dados de difícil comparação que impossibilitam a aprendizagem entre cidades. Espera-se, portanto, excelentes referências em Portugal na adoção deste referencial no decorrer dos próximos anos. 

artigo de Eduardo Lopes, Analyst no Departamento de Innovation Management da WINNING Scientific Management, publicado na revista SMART CITIES

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