04 fevereiro 2017

É só o alojamento local que está a aumentar as rendas e o preço das casas em Lisboa?


O negócio do Alojamento Local acelerou a recuperação dos centros históricos, mas tem um efeito perverso: os preços quer das rendas, quer das casas subiram tanto que só mesmo os turistas os podem pagar. Nas freguesias de Lisboa, onde há mais casas para alugar de curta duração a turistas, o valor dos imóveis disparou. Mas o "mau da fita" não é apenas o alojamento local. Há outros “maus 
da fita”. No bairro da Graça, em Lisboa, onde as casas são tradicionalmente pequenas, um T2 de 60 m2, arrendava-se, há três anos, por 500€. Hoje em dia, pedir 700€ pelo mesmo apartamento já não é caso raro.


As rendas estão mais caras e a AHP – Associação da Hotelaria de Portugal não tem dúvidas: a culpa é do alojamento local (AL), sobretudo desde a lei de 2014, que veio alterar o regime jurídico do AL, simplificando os licenciamentos.


Um estudo encomendado pela AHP à Universidade Nova de Lisboa é peremptório: o alojamento local tem um efeito pernicioso no valor das rendas (contribuindo para um aumento de cerca de 13,2% ou €1,48/m2), bem como no valor de transação dos imóveis (aumento de 30,5% ou €652/m2). Mas será que a explosão imobiliária que se vive na capital se deve apenas ao AL?

Por ironia, os próprios hotéis também contribuem para este aumento de valor nas transações imobiliárias, uma vez que, só este ano, está prevista a abertura de mais 30 novas unidades hoteleiras (10 das quais em Lisboa e 11 no Norte). “Há muitos fatores a influenciar a subida dos preços”, garante Eduardo Miranda, da Associação do Alojamento Local, dando como exemplo a liberalização das rendas a partir da lei de 2012.

Outro aspeto a ter em conta é a compra de imóveis por parte de cidadãos estrangeiros, atraídos ao nosso país não só pelos benefícios fiscais concedidos mas também pelos vistos gold. “Alojamento local e arrendamento de longa duração são coisas completamente diferentes, nem deviam ser colocados no mesmo patamar. O AL é uma prestação de serviços”, sublinha Ana Jacinto, da AHRESP. 


Mas também é inegável: nos bairros históricos, pela rentabilidade que traz aos proprietários, o aluguer de casas a turistas ou a estudantes tornou-se bem mais atrativo do que o arrendamento de longa duração. Até pelo retorno mais rápido que traz em caso de investimento na reabilitação. Não há muito tempo, as casas demasiado pequenas e degradadas, sem estacionamento e em zonas inseguras, afastavam as pessoas do centro histórico; agora os edifícios estão a ser recuperados, os bairros voltam a ganhar vida, mas os preços… só mesmo para turista pagar.

Fonte: Visão

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