04 maio 2016

Turismo residencial avança no Alentejo


A segunda fase do projeto São Lourenço do Barrocal, assinado por Souto de Moura, passa pela venda de lotes para construção de casas, na herdade agrícola, que foi reabilitada como hotel de cinco estrelas. Contar a história da família foi o grande objetivo que moveu José António Sousa Uva a avançar com o projeto turístico São Lourenço do Barrocal, na herdade em Monsaraz onde representa a oitava geração detentora desta propriedade.


O hotel inaugurado em março, o primeiro de cinco estrelas daquele concelho alentejano e que resulta da reabilitação da casa agrícola com mais de dois séculos, num projeto assinado pelo arquiteto Souto de Moura, representa a face mais visível do empreendimento São Lourenço do Barrocal, que vai agora avançar para a segunda fase, já de turismo residencial. A construção do hotel envolveu investimentos de €9 milhões, dos quais €5,5 milhões apoiados por fundos comunitários.

Segundas residências de "luxo despretensioso" 

"A reabilitação deste conjunto, que é o coração da herdade, foi a primeira fase, mas um projeto destes não tem fim, é um trabalho pensado a longo prazo e para a próxima geração", nota José António Sousa Uva, que desde 2002 se lançou no projeto São Lourenço do Barrocal e que faz questão de se demarcar de grandes empreendimentos turísticos há anos anunciados para a zona de Alqueva, designadamente do empresário José Roquette. "Decidimos avançar muito antes, isto é totalmente independente de outros investimentos", frisa. 

Após a abertura do hotel com spa e 40 quartos (dos quais 16 a funcionar em casas), do restaurante, da adega e de uma loja com produtos regionais, a nova fase do projeto vai passar pela venda de 25 lotes para construção de moradias privadas, com cerca de 10 mil metros quadrados e a €300 mil cada. O trunfo aqui são os barrocais, que caraterizam a propriedade com 780 hectares e que datam desde o período Neolítico (na herdade há dólmenes e menires com milhares de anos) e constituem uma delimitação natural dos terrenos, dando privacidade aos proprietários. Para fases posteriores, já foram identificados 65 lotes para moradias. 

"As casas nos barrocais são uma outra forma de continuar a ideia do projeto: manter vivo este monte com todo o seu património e legado, dando-lhe vida agrícola e vida turística, no espírito de procurar a raiz das coisas mas repensando-as para os dias de hoje", considera Sousa Uva. "Faz sentido que uma herdade como esta possa ser sentida por várias famílias, abrir este espaço para que outras pessoas possam criar aqui as suas raízes e fazerem a sua casa no campo." 

No seu caso, as raízes estão à vista. Num conceito de "luxo despretensioso", a decoração do hotel (com interiores da Anahory Almeida) é marcada por objetos de família que estavam na antiga casa, como móveis, fotografias ou outras peças. "As pessoas que vêm ao hotel gostam de conhecer a história que está por trás e também o nosso compromisso de futuro", defende.

Reabilitar a casa agrícola foi o principal foco, usando o mais possível "materiais tradicionais usados na construção há 200 anos", como cal ou reboco de areia. 

Nesta missão, a escolha recaiu sobre o arquiteto Souto de Moura."0 monte estava em ruínas, e para reabilitar todas estas volumetrias sem as desvirtuar era preciso alguém com um conhecimento profundo da arquitetura portuguesa", explica o promotor, dando o exemplo do extenso telhado da casa central da herdade. "Recuperámos tudo o que é telha antiga, não há aqui uma telha nova. Acho que conseguimos manter a patine, e esse era o objetivo, fazer uma reabilitação honesta, tanto na arquitetura como ao nível do pormenor." 

A agricultura é outra área em expansão na herdade, onde se produz vinho e azeite com a marca São Lourenço do Barroca) (à venda na, loja do hotel). O próximo investimento passa por fazer uma horta biológica, capaz de abastecer o restaurante, onde a preocupação também é ter uma cozinha atual "mas enraizada no lugar".

"Este projeto é mais do que a reabilitação de um conjunto de edifícios: é a história das várias camadas de ocupação do território desde o Neolítico, e em particular de uma família que tem aqui as suas raízes há muito tempo e é orgulhosamente alentejana", enfatiza Sousa Uva. "Não é um pastiche, não é brincar às herdades e ao campo, trata-se de pensar verdadeiramente o que é, nos dias de hoje, um projeto turístico e agrícola a funcionar em conjunto. A grande herança do Alentejo, e muito por onde passa o seu futuro, não é viver agarrado ao passado, mas pensar o que faz sentido para as próximas gerações."

Fonte: Expresso / Foto: Lusa

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