15 agosto 2017

Imobiliário impulsiona sector da decoração


A retoma do mercado imobiliário e o turismo estão por trás do crescimento desta atividade. Intrinsecamente ligado ao mercado imobiliário, o sector da decoração e design de interiores tem vindo a acompanhar a retoma desta área, com aumentos de atividade registados pelas empresas desde 2014. Portugal está na moda como destino turístico, e o fluxo de estrangeiros que aportam ao país faz com que a hotelaria e o alojamento local sejam bons clientes e contribuam para o crescimento do negócio de quem se dedica a tratar dos interiores dos espaços.


No mundo dos imóveis, há diferenças entre decoração e design de interiores. Na decoração, o espaço onde se vai intervir está finalizado a nível de obra e pronto a preencher. Já o design de interiores, mais complexo, trata do desenvolvimento total ou parcial da parte de dentro das casas e pode definir acabamentos, pinturas, revestimentos, design de cozinhas e casas de banho e a conceção do espaço em geral. Há quem as defina como áreas complementares, e muitas empresas e ateliês dedicam-se a ambas.

A CRESCER DESDE 2014

Com 22 anos de atividade, Pedro d’Orey, sócio da QuartoSala — Home Culture, um ateliê que elabora projetos de design e arquitetura de interiores, já passou por várias fases deste mercado. Conta que “o negócio da decoração e design de interiores move-se um ou dois anos depois do imobiliário, ou seja, quando este começa a cair, sabemos que em dois anos teremos caído na mesma proporção”. A retoma do mercado imobiliário começou em 2014 e, atento ao impacto que esta alteração iria ter na sua área de atuação, reposicionou o negócio para um cliente diferente que viu estar a chegar a Portugal, mais sofisticado e conhecedor. Neste novo perfil, não cabem só estrangeiros mas também portugueses, alguns dos quais viveram fora e regressaram ao país.

QuartoSala desenvolveu o espaço interior deste restaurante, situado no Parque 
das Nações

O certo é que toda esta mexida se refletiu nas contas. Em 2014, a QuartoSala teve um volume de faturação de €900 mil, um ano depois subiu para €2,25 milhões, e em 2016 atingiu €2,75 milhões. “Este ano fechámos o primeiro semestre com valores na ordem dos €2,25 milhões, o que representou um crescimento de 80% face ao período homólogo em que atingimos €1,25 milhões”, explica Pedro d’Orey. Estes valores não são só de projetos de decoração e design de interiores. A QuartoSala tem também um showroom multimarca de mobiliário, iluminação e equipamentos para casa, representando em exclusivo algumas marcas internacionais. Ou seja, utiliza os produtos que representa nos seus projetos, mas também vende para outros arquitetos e decoradores. A representatividade destas duas atividades no negócio total é de 60% e 40%, respetivamente, e “têm vindo a crescer na mesma proporção”, salienta Pedro d’Orey.

No mercado nacional, que considera “aquecido”, o sócio da QuartoSala faz projetos para todas as áreas, desde restauração a ambientes corporativos, apesar de o residencial ter sido sempre o seu grande foco. “É a nossa grande especialidade e é aí que somos mais conhecidos”, frisa. Quanto ao alojamento local, tão na moda, acrescenta que surgem projetos pontuais, para uma oferta topo de gama dirigida a estrangeiros que querem passar algum tempo em Portugal, enquanto não se decidem pela compra de um imóvel.

Apesar de sedeada em Paço d’Arcos, a QuartoSala trabalha para todo o país. Há zonas que surpreenderam, como por exemplo a Região Oeste, onde lhe surgiu muita clientela estrangeira, com mais de 55 anos, para habitação. Em Lisboa aparecem também casais jovens, com filhos e verbas mais pequenas, mas que permitem fazer projetos aliciantes.

ALOJAMENTO LOCAL EM ALTA

Com atuação em todo o país e no exterior também, o ateliê de design de interiores de Lígia Casanova não tem mãos a medir. E se a área residencial foi onde esteve sempre mais focada, no último ano a de hotelaria tem vindo a crescer. “Deve-se ao incremento do turismo em Portugal e à necessidade de ter uma resposta diferenciadora nesta área”, comenta. A título de exemplo, o seu ateliê está a trabalhar em três projetos de grande dimensão de hotelaria no norte e sul do país, que estão em fase de implementação. Nos espaços dedicados ao turismo explica que os clientes procuram “originalidade e conforto materializados em ambientes atuais”.

Em termos de negócio, desde há três anos que Lígia Casanova regista um crescimento de atividade. Apesar de não revelar valores, conta que de 2013 para 2016 triplicou a faturação e o número de projetos. No futuro considera que esta área vai continuar a trilhar um caminho ascendente, dado que “os nossos serviços são cada vez mais requisitados pela necessidade que as pessoas têm de se sentirem bem em sua casa”. Na foto deste artigo é possível ver um dos trabalhos de decoração, onde na sala, em tons de cinza, não falta a presença de livros.

Este otimismo é partilhado pela designer de interiores Rebecca Leon. “Temos vindo a crescer significativamente e há cada vez mais procura nesta área, tanto a nível particular como em espaço público. Comparando 2015 com 2016, o volume de negócio aumentou cerca de 50%, e este ano arrancámos com quatro novos projetos de reabilitação.” Neste último parâmetro, conta que a reabilitação destinada a arrendamento de curta duração disparou desde 2014.

“Lisboa é onde temos mais obras deste tipo em curso. Tornou-se uma cidade extremamente cosmopolita e trendy, está na moda, e há uma procura enorme em apartamentos destinados ao arrendamento de curta duração por toda a cidade”, comenta. Na sua opinião, Portugal está em desenvolvimento a todos os níveis e figura entre as melhores capitais europeias. É um destino com bom clima e mais seguro do que a maioria dos países europeus, o que o torna atrativo.

O centro do negócio do ateliê de Rebecca Leon é o design de interiores e decoração, mas desenvolve também outras atividades, como desenho de mobiliário para os seus projetos, paisagismo, imagens 3D, e estabelece parcerias com gabinetes de arquitetura. Trabalha de Norte a Sul do país, mas especialmente em Lisboa e Cascais, e conta com algumas obras no Porto e no Algarve.

Um dos maiores projetos que tem em mãos é o Lisbon Green Valley, no Belas Clube de Campo, no qual o seu ateliê é responsável pela decoração das moradias e apartamentos modelo.

Rebecca Leon 
é a autora desta casa para alojamento local, da qual 
se destaca um dos quartos

UM MERCADO GLOBAL

A postura no mercado da empresa Ana Roque Interiores é um pouco diferente. O seu foco é a venda de mobiliário de fabrico próprio, a nível global. Contudo, tem também clientes que lhe pedem para decorar as suas casas, e por isso conta com um departamento de design de interiores que complementa o seu produto. “Trabalho nesta área há 20 anos, comecei com uma loja pequena”, explica Ana Roque. Hoje vende mobiliário na França, Rússia, Qatar, Sri Lanka e tem projetos de decoração e design de interiores em Madrid, França e Portugal. Estão mais centrados em Lisboa, mas tem também um projeto no Algarve.

Ana Roque Interiores concebeu este projeto, situado em Paris, do qual se pode ver a sala

“Nos primeiros três meses do ano duplicámos a faturação em relação ao ano anterior, de €150 mil para €300 mil. Mas é tudo variável, já que um só cliente que surja com um grande projeto pode alterar este valor”, conta Rafael Roque, diretor comercial da empresa. Este crescimento é sustentado em 70% pela atividade fora do país e 30% em Portugal, mas acrescenta que o seu negócio tem vindo a crescer nos dois territórios.

A título de exemplo, um projeto chave na mão, ou seja, com tudo incluído, mobiliário, papel de parede, iluminação, cortinados, entre outros elementos, pode custar €80 mil. Foi o caso de uma moradia com perto de 200 m2 de área, onde intervieram. Mas pode ser mais barato. Por exemplo, um pequeno apartamento na Avenida da Liberdade, em Lisboa, ficou por €12 mil.

A Ana Roque Interiores está direcionada para o segmento médio alto, e o seu diretor comercial não tem dúvidas de que este é um mercado que vai continuar a crescer. Portugal pode ser cada vez mais um destino de luxo, e, com a internet, a indústria de serviços tornou-se global.

Fonte: Expresso

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