15 abril 2017

Algarve campeão da recuperação dos preços das casas no pós-crise


Regresso do crédito à habitação junto do mercado nacional e interesse dos estrangeiros para residir em Portugal estimula aumento dos preços das casas. A crise económica e imobiliária que congelou o país durante mais de sete anos teve impacto em todo o país, mas em algumas zonas o embate foi maior. A região algarvia, que assenta a maior parte do seu mercado na segunda habitação, foi aquela que mais sofreu e é também aquela que agora mais se evidencia na recuperação dos preços das casas, tendo em conta a quebra que tinha sofrido.


Em exclusivo para o Expresso, o Confidencial Imobiliário, que reúne dados sobre o sector, apurou os concelhos que melhor recuperaram no pós-crise, tendo como base a informação cedida pelas 400 mediadoras imobiliárias de todo o país e que fazem parte da sua amostra. A partir do preço mínimo que foi atingido nos vários municípios (e que em comum partilham o período entre o 2º semestre de 2013 e o 1º semestre de 2014) e os valores a que conseguiram chegar em finais de 2016 foi possível apurar que os maiores crescimentos dos preços médios das casas não se registaram apenas nos centros de Lisboa e do Porto. Numa short-list de 18 municípios, 11 estão localizados na região algarvia, com Faro na segunda posição entre as maiores valorizações logo a seguir à capital.

“O Algarve foi uma das regiões que mais sofreu com a crise e uma das que mais perdeu valor. Estas subidas que agora se registam refletem as quedas anteriores”, acentua Ricardo Guimarães, diretor do Confidencial Imobiliário.

Luís Lima, presidente da APEMIP (Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal), lembra que até 2010 os melhores clientes do Algarve eram os portugueses, não só ao nível do turismo mas para o então dinâmico mercado das casas de segunda habitação: "Mas com a crise a maior parte destes compradores desapareceu. E quem tinha casas tentou livrar-se dos ativos. Havia realmente uma grande pressão para a venda e estas foram feitas muitas vezes a preços extraordinariamente baixos."

A crise também não poupou o tradicional mercado dos ingleses e quase fez desaparecer a inesperada fileira dos irlandeses que nos tempos áureos também alimentavam as transações na região a que já chamaram a "Flórida da Europa". "Era a região de Portugal que por norma captava a segunda habitação e o investimento estrangeiro e por isso sofreu muito. Mas agora acabou por recuperar e com novos mercados. Os algarvios não acreditavam que os franceses chegassem ao Algarve, mas agora também lá estão", especifica ainda Luís Lima.

Ricardo Guimarães dá o exemplo de Faro, um destino mais improvável de captação de turistas mas que também está neste momento a colher esses frutos (surgindo em 2º lugar na lista): "Faro é um concelho híbrido, entre o residencial e o turístico, que até tem mais caraterísticas de residencial. Só que o centro histórico de Faro ganhou um potencial muito interessante com a questão do alojamento local, dada a proximidade ao aeroporto. Um centro histórico que há bem pouco tempo estava bastante abandonado e sem vocação alguma".

Além dos turistas que alimentam o alojamento local e que estão a descobrir novas localidades além de Lisboa e do Porto, também os pequenos e médios investidores contribuem para o fenómeno da descentralização. As baixas taxas de retorno dos produtos financeiros e os sucessivos escândalos da banca nacional que tem engrossado a lista de lesados tem levado os cautelosos aforradores a optarem por investir o seu dinheiro em imóveis que colocam posteriormente no mercado de arrendamento.

Descentralizar o investimento imobiliário

E descentralizar parece ser mesmo a palavra de ordem no atual cenário, a todos os níveis. Também os estrangeiros que estão a vir para cá não para o turismo mas para residir ao abrigo do popular programa do Residente Não habitual (que confere benesses fiscais a quem ficar por um mínimo de seis meses) procuram alternativas aos aquecidos preços de Lisboa e do Porto. Segundo o estudo da Confidencial, os preços em Lisboa cresceram 45% (e no centro histórico 73%) - a maior subida entre todos os concelhos - e no Porto 17% em termos médios (e 91% no centro histórico).

Miguel Poisson, CEO da ERA Portugal, aponta exemplos: "À medida que os preços vão aumentando na capital, excluem uma franja de estrangeiros, mesmo alguns da classe média ou média alta, que não se importam de atravessar a ponte para o outro lado e olham para outras zonas perto de Lisboa mas com preços mais baixos, como é o caso de Palmela ou Alcochete."

Ricardo Sousa, o CEO da Century 21 Portugal, reforça, dizendo que além do regresso do crédito à habitação, que voltou a animar o mercado local de clientes, também o internacional começa a afastar-se do centro de Lisboa e Porto a ir para locais periféricos mais inesperados. "Não se importam, por exemplo, de ir para o Alentejo, onde a lógica já não é comprar uma quinta mas sim um apartamento ou moradia em cidades como Évora. Olham também para Tomar, Santarém, Leiria e Setúbal, atraídos neste último caso pela sua zona histórica que está a ser reabilitada."

Também Miguel Poisson cita outros fenómenos localizados, como o de Peniche e Ericeira, movidos pelo recente turismo de surf. "Há cada vez maior procura face à oferta existente e os preços tendem a aumentar", explica o responsável da ERA, lembrando que o Oeste se tornou no destino número um da Europa para os surfistas fora do continente europeu. 

O aumento no acesso ao crédito bancário por parte da classe média veio ajudar a recuperar os preços, tanto na periferia das grandes cidades como em zonas do interior que estavam muito deprimidas em termos de valores, exatamente pelos cortes nos empréstimos bancários. Pela inflação dos preços nas duas grandes cidades do país, há quem olhe, por exemplo, para Odivelas e Braga. A primeira tem uma boa rede de transportes, está encostada à capital, tem imobiliário de qualidade e a mais baixo preço. "Braga, comparada com as principais cidades e pela proliferação de empresas de construção, tinha o preço por m2 mais baixo do país", afirma. À medida que o Porto cresce nos valores pedidos, há quem trabalhe na Invicta e opte por residir em Braga. Ou Guimarães, que após ter sido Capital Europeia da Cultura, entrou no roteiro internacional.

Ricardo Sousa, da Century 21, defende, por isso, uma estratégia concertada de promoção de Portugal no seu todo. "O país é pequeno, tem boas infraestruturas e aeroportos de norte a sul que permitem rapidez de acesso a todas as localidades do país."

O presidente da APEMIP, Luís Lima, sublinha que é "positiva esta descentralização do investimento imobiliário", concordando que os preços nos centros de Lisboa e do Porto estão a atingir níveis demasiado elevados. "Pode haver uma especulação de preços que algum dia terá de chegar a um limite, mas não há uma bolha imobiliária. Há, sim, falta de mais pedagogia, para não haver exageros. Será um crime de lesa-pátria se estragarmos o atual momento." 

Recorde-se que no seu relatório "Global Housing Watch", do passado mês de março, o Fundo Monetário Internacional (FMI) voltou a recordar que existe um grupo de países - onde Portugal se inclui - em que os preços caíram e sobem agora de forma significativa. O estudo coloca Portugal na categoria a que chama bust and boom, com subidas significativas a partir de 2013. Segundo os dados avançados pelo FMI, os imóveis em Portugal valorizaram 6,4% no último ano.

Fonte: Expresso

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