11 janeiro 2017

Preços das casas triplicam ritmo de crescimento face a 2015 com subida de 7,5%


Os preços da habitação em Portugal já estão a recuperar desde meados de 2013, mas em setembro de 2016 atingiram a valorização homóloga mais elevada desde 2009, aumentando 7,5% face a setembro de 2015. Esta valorização foi apurada pela Confidencial Imobiliário (Ci) no âmbito do seu Índice de Preços Residenciais, que traduz a “realidade do mercado” ao incidir sobre “vendas efetivas” reportadas ao SIR, explica Ricardo Guimarães, diretor desta empresa de informação estatística para o imobiliário.



De acordo com este indicador, o aumento de 7,5% nos preços da habitação em Portugal (Continental) observado em setembro último, mais que triplica o crescimento homólogo de 2,1% registado um ano antes, em setembro de 2015. A subida agora registada resulta de 5 trimestres consecutivos de valorizações do mercado e, de acordo com Ricardo Guimarães, não só “é a primeira vez, desde início da crise (finais de 2008), que se completa uma série de 5 trimestres sucessivos de crescimento” como é mesmo “necessário recuar a 2001 para se observar uma valorização anual desta magnitude”. Luís Lima, presidente da APEMIP, a associação que representa as empresas de mediação imobiliária, vê “este crescimento como positivo e com normalidade”, defendendo que “é importante que se possa manter sustentado”. Também os agentes de mercado em geral se têm mostrado mais confiantes. De acordo com os últimos Portuguese Housing Market Survey (PHMS), inquéritos mensais de conjuntura realizados pela Ci e pelo RICS, tem havido uma recuperação sucessiva no sentimento dos players que operam no mercado residencial. As suas expetativas para a evolução dos preços apontam para uma subida média anual de 4% nos próximos 5 anos, ritmo que tem sido confirmado e mesmo ultrapassado pela realidade do mercado. Os inquiridos do PHMS reportam sucessivos aumentos da procura e das vendas, tendência confirmada nos dados nacionais divulgados pelo INE, que apuram a venda de 92,8 mil casas nos primeiros 9 meses de 2016, num crescimento de 20% face ao mesmo período de 2015 e dando continuidade à recuperação nas vendas iniciada em 2013. 

Por que recuperam os preços?

Para Ricardo Guimarães, a “estabilização do sistema financeiro e o sucessivo incremento do crédito à habitação” – que triplicou nos últimos três anos, de acordo com os dados mais recentes do Banco de Portugal – é uma das razões para a “generalização da recuperação dos preços”, opinião partilhada quer por Miguel Poisson, diretor geral da ERA Portugal, quer por Ricardo Sousa, administrador da Century 21 Portugal. “Mais crédito à habitação tem fortalecido a procura e compra por parte das famílias portuguesas”, diz Miguel Poisson, explicando que “o nível de confiança dos portugueses está a aumentar”, fazendo com que várias famílias que congelaram a sua decisão por medo da crise tivessem agora avançado para a compra.

A procura de génese internacional tem também pressionado em preços em alta de acordo com os responsáveis de duas das principais redes de mediação, sobretudo porque “têm um peso muito elevado no valor total das vendas efetuadas em Portugal”, clarifica Miguel Poisson, explicando que a procura por parte deste tipo de público é mais focado nas zonas prime de Lisboa, Porto e Algarve. 

Ricardo Sousa crê que os mercados periféricos e, consequentemente, os consumidores nacionais “começam agora a liderar o número de transações”, pelo que “o rendimento disponível das famílias irá condicionar a subida de preços nos próximos meses”. Também Ricardo Guimarães sublinha que “esta valorização já começa a ser transversal a todo o mercado”, embora existam “ritmos diferenciados geograficamente”. José Araújo, diretor da Direção de Negócio Imobiliário do Millennium bcp, concorda que “a subida de preços é generalizada”, embora com taxas de crescimento “bem diferentes em Lisboa, Porto e parte do Algarve face aos restantes locais do país”.

O comportamento dos preços encontra ainda explicação, segundo Ricardo Sousa, no facto de existir “falta de oferta de imóveis ajustados às reais necessidades da procura”, um sentimento também evidenciando nos últimos PHMS, onde tal desadequação é identificada como uma das principais restrições do mercado. De acordo com José Araújo, este desequilíbrio entre oferta e procura e, consequente subida dos preços, deve-se também ao facto de “a construção existente se concentrar em reabilitações nos centros históricos das principais cidades, com oferta muito concentrada nos segmentos médio-alto e de luxo, acabando por ser mais focada em compradores estrangeiros com elevado poder de compra”. Este responsável, assim como Miguel Poisson, consideram ainda que o facto de o imobiliário ser cada vez mais um setor alternativo para aplicação de poupanças também motivou a subida de preços. “A elevada liquidez, a remuneração dos depósitos e os spreads baixos de crédito tem levado à entrada de muitos investidores no mercado. Isso também fez subir os preços, o que talvez não acontecesse na mesma medida, se os compradores fossem apenas os clientes finais”, diz José Araújo.

Preços ainda abaixo de 2007

Apesar da tendência de recupera- ção e aceleração do ritmo de crescimento, os preços das casas continuam num patamar abaixo dos ní- veis pré-crise. De acordo com a Ci, os preços médios da habitação em Portugal caíram 21,8% entre 2007 e meados de 2013, quando se atingiu o pico mais baixo do mercado. “Só depois os preços começaram a estabilizar, tendo o ano 2014 terminado com uma recuperação de 2,3%, a que se juntou uma subida de 2,9% já em 2015”, detalha Ricardo Guimarães. E ainda que estes dois últimos anos exibam uma trajetória de valorização, com um aumento acumulado de 11,1%, os preços “continuam 13,5% abaixo do patamar de 2007”, termina o diretor da Ci.

Fonte: Público

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