09 janeiro 2017

Investimento imobiliário comercial. Negócio cai 35% em 2016


Lembra-se do processo de venda dos terrenos da Feira Popular, em Lisboa? Bom, esse foi um daqueles mega negócios imobiliários cujo desfecho estava previsto para 2016 e, por falta de compradores, acabou por não se concretizar. Foi por esta e por outras situações semelhantes que se registou uma quebra da ordem dos 35% no volume de negócios do imobiliário não residencial em Portugal.


Dados revelados a semana passada pela consultora internacional Cushman & Wakefield (C&W) indicam que o valor das transações imobiliárias rondou os €1.300 milhões, contra €2.000 milhões registados em 2015, um ano de recorde desde que há registo deste tipo de informação imobiliária.

O caso da Feira Popular é paradigmático: quem vende quer sempre mais do que quem compra está disposto a pagar. Normalmente, após negociação posterior, o negócio concretiza-se. Acontece que os €135 milhões que a Câmara Municipal de Lisboa queria encaixar ficaram muito acima das propostas apresentadas pelos potenciais compradores. A rigidez da oferta manteve-se ao longo de todo o ano e chegou-se a dezembro com o negócio por concretizar. 

Vários negócios arrastaram-se para 2017

"Essa foi claramente uma daquelas operações que fez com que houvesse uma quebra no volume de negócios em 2016, face ao ano anterior", sublinha Eric Van Leuven, diretor-geral da C&W. Explica que, além desta situação, houve mais algumas de dimensão idêntica que acabaram por se arrastar. "Só no que nos diz respeito, posso dizer que temos operações na ordem dos €300 milhões quase prontas para fechar. Apenas não se concretizaram em 2016 ou por questões relativas ao respetivo financiamento ou, ainda, devido a questões de ordem fiscal ou pura burocracia", pelo que deverão realizar-se em 2017. 

Certo é que os negócios não se realizaram com a mesma pujança de 2015, mas Eric Van Leuven garante que não há nenhuma razão estrutural que justifique esta quebra. Quando muito, o 'Brexit' pode ter originado alguma hesitação nos meses que se lhe seguiram. Além disso não vejo outra explicação de âmbito global, ou europeu, que possa ter retirado Portugal da rota dos investimentos". 

De resto, aquele responsável diz que continua a haver muita liquidez no mercado em geral e que as rentabilidade proporcionadas pelos ativos imobiliários em Lisboa, continua "bastante acima" da generalidade dos mercados europeus. Por exemplo, enquanto em Londres as yields (rentabilidades) podem rondar os 2%, na capital portuguesa situam-se nos 5%.

Durante 2016, só a Roménia emergiu como potencial concorrente do mercado nacional. "Mas Portugal - e Lisboa em concreto - continua a revelar-se uma excelente opção"' para quem tem dinheiro para investir no mercado institucional (não habitacional, embora este também esteja a ser alvo de uma forte procura internacional nos últimos três anos). 

Entre os negócios que mais se destacaram em 2016, a venda do Campus da Justiça - no Parque das Nações, em Lisboa - foi o que envolveu a maior sorna. Mudou de mãos por €223 milhões. Foi vendido por um grupo que integrava o fundo de pensões da Caixa Geral de Depósitos (CGD), o fundo de estabilização financeira da Segurança Social e a Fundação Calouste Gulbenkian (o único privado no consórcio). O comprador foi um fundo de investimento de origem francesa que aproveitou para adquirir mais imóveis na cidade de Lisboa, Outras duas grandes transações foram as que envolveram a Torre A, do conjunto das Torres de Lisboa, junto à 2ª Circular e o edifício da NOS, no Campo Grande.

Os negócios realizados no ano passado em Portugal foram, aliás, dominados por investidores estrangeiros, em mais de 80%. Quanto à origem do capital aplicado no mercado português destacam-se, segundo a C&W, os Estados Unidos da América (com 24% do total), seguidos de perto pela França (23%). Surgem depois o Reino Unido e a Espanha, entre outros, embora com menos relevância. 

450 novas lojas de rua

De acordo com a C&W, foram registados 450 novos contratos no que é designado por mercado do retalho (lojas para comércio de rua) em Portugal, sendo a grande maioria aberturas de novos estabelecimentos. Entre estes, o sector que mais se destacou foi o da restauração, com 160 novos espaços inaugurados. Seguiu-se o ramo da moda, com 20% dos novos espaços (o equivalente a 90 lojas). Como já vem, sendo habitual, a Grande Lisboa concentrou o maior número de inaugurações de novos espaços comerciais de rua - 52% do total.

Em resultado da procura sustentada que tem havido nos últimos anos, sobretudo na capital, há um segmento do sector da construção que tem saído claramente a ganhar. Trata-se da reabilitação urbana, que, segundo a C&W, "manteve urna forte atratividade junto de investidores". Numa amostra de cerca de 30 negócios analisados por aquela consultora imobiliária, concluí-se que, neste domínio, o valor transacionado ultrapassou os €480 milhões, com um valor médio de transação por metro quadrado de construção próximo dos €1.700.

Do total do capital aplicado em transações imobiliárias em Portugal durante o ano passado, 48% foi alocado ao sector dos edifícios de escritórios, que registou o volume de investimento mais alto de sempre - cerca de €600 milhões.

Fonte: Expresso

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